CHICAGO - O Green Day era a grande atração de sábado do Festival Lollapalooza, em Chicago, e a banda californiana, que faz shows no Brasil em outubro, jogou totalmente para o público durante duas horas e meia de apresentação. O vocalista Billie Joe Armstrong usou tantos recursos para animar a plateia que fez lembrar um puxador de trio elétrico. Mas, na crônica do segundo dia de um dos maiores acontecimentos da música pop no mundo, também merecem destaque grupos novos que tiveram passagens excelentes pelo festival, como The XX, Warpaint e Edward Sharpe & The Magnetic Zeros. A banda francesa Phoenix, que também vai ao Brasil, em novembro, foi outro que desceu do palco ouvindo palmas e gritos entusiasmados.
O trio de punk/pop formado em 1987 foi a razão que levou a maioria das cerca de 90 mil pessoas ao Lollapalooza no sábado, e Billie Joe deixou claro o quanto gosta de ser o centro das atenções. Desde o início da performance do Green Day, com a música "21st Century breakdown", que dá nome ao último disco da banda, o vocalista berrou inúmeras vezes para o público jogar as mãos ao alto, pular ou bater palmas, chamou vários fãs ao palco, fez covers de Black Sabbath, AC/DC, Guns' n' Roses, Rolling Stones e cantou até "Hey Jude", do Paul McCartney.
Até certo ponto, foi engraçado. Depois de cantar com um felizardo pinçado do público, Billie Joe convenceu o cara a fazer um "stage dive" (mergulho do palco) e o sujeito foi com tudo. Outro fã cantou "Longview" com tanta desenvoltura que o líder do Green Day deu a ele uma de suas guitarras (depois de beijá-lo na boca). Mas, a partir de um certo momento, a rotina de brincadeiras deixou a apresentação parecida com um programa de auditório. Era muita firula entre as músicas. Seria melhor reduzir as piadas a 30% e deixar o som ganhar mais proporção. Porque nesse quesito, Billie Joe, Tré Cool e Mike Dirnt são competentes e não precisam economizar. Pancadas como "Know your enemy", "She", "Basket case" e "American idiot" empolgaram muito.
Segundo grupo mais esperado do dia, o Phoenix reforçou a fama de bom de palco. Como de costume na turnê atual, o quarteto de Varsailles, que canta em inglês, abriu os trabalhos com seu maior hit, "Lisztomania", do último disco, "Wolfgang Amadeus Phoenix", de 2009. Daí em diante, a banda manteve a pegada e fechou com outras duas favoritas de seus fãs: "If I ever feel better" e "1901". Durante ambas, o vocalista Thomas Mars, um dos músicos mais carismáticos do mundo pop atual, desceu para cantar com o público. E "1901" ganhou uma versão esticada antes de tudo acabar em ovação.
O trio britânico The XX reuniu um público enorme para sua apresentação. A banda estourou há menos de um ano, com seu indie pop de camadas densas e molho de new wave, e já é um dos grupos mais concorridos em eventos plurais como este de Chicago. Mas valeu a pena o esforço para chegar perto do palco. No Festival Coachella, na Califórnia, em abril, o som do XX ficou meio disperso, sem pressão, mas o grupo ajustou os parafusos e deixou em transe a plateia no Grant Park.
Entre os seis palcos do Lollapalooza, um dos menores é o Sony Bloggie, uma estrutura simples e cercada de árvores, que recebeu dois dos melhores shows de sábado. Às 14h15, o local foi tomado pelas quatro meninas que formam a Warpaint, banda de Los Angeles que mistura atmosferas psicodélicas e vocais influenciados por Cat Power. Nenhuma delas mostrou muita virtuosidade com os instrumentos, mas, juntas, elas criam um som hipnotizante. É uma pá cavando através das tendências superficiais e trazendo à tona Jefferson Airplane e The Doors.
Às 18h30, o mesmo palco veria mais um grupo experimental ser consagrado. Misturando folk, pop e rock, Edward Sharpe & The Magnetic Zeros faz trilha sonora eufórica para dias de sol. O grupo é um coletivo em constante mutação (ninguém sabe ao certo quantos integrantes são) e sua turnê virou sensação nos EUA. Milhares se espremeram - e muitos subiram em árvores - para vê-los no festival em Chicago. O vocalista Alex Ebert é um neo-hippie sem um pingo da chatice do Devendra Banhart. Ele começa o show no meio do público, dança muito, tira a camisa, se enrosca no rolo de papel higiênico jogado por um fã... Tudo na maior espontaneidade. Segundo Ebert, Edward é um personagem messiânico enviado ao mundo para curar as mazelas da humanidade, mas conheceu muitas meninas, apaixonou-se várias vezes e acabou de desviando do caminho. Figuraça.
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